quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Aula de Hoje: A Odara da diferença

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Racismo e Escola, duas palavras aparentemente sem nenhuma ligação, será verdade? Sei, que no mundo juvenil, a escola é o espaço privilegiado onde aprendemos e compartilhamos os saberes, valores, crenças, hábitos e também preconceitos. É o lugar das construções ideológicas e identitárias dos seres humanos. Neste espaço que adoramos e odiamos fazemos amizades, brigamos, namoramos, jogamos, lemos, interpretamos, contamos, convencemos e somos convencidos de algo a todo instante.

As práticas racistas encontram seu lugar na sociedade, dentro da escola quando não vemos cartazes de crianças ou jovens negr@s espalhados pelos corredores, quando, num desfile de beleza invisibilizamos as meninas e os meninos negr@s desencorajando-os até de participar desse tipo de concurso (porque só ganham as meninas chapinhas, de olho claro, brancas e bem magricelas?). O Racismo está presente nos apelidos, nas brincadeiras feitas por alun@s e professor@s que, aparentemente dizem ser inofensivas, mas que marcam a gente para o resto de nossas vidas machucando como uma ferida aberta.

No ambiente escolar, o alvo das chacotas está no corpo negro que, em seus diversos aspectos, como o cabelo, o rosto e a sexualidade despertam uma variedade de preconceitos no imaginário social ocidentalizado, chegando à bestialização. O cabelo como ruim, bombril; o rosto apresentado com olhos grandes, nariz apelidado de venta e lábios denominados beiços; e a sexualidade expressa nos estereótipos de negro com pênis grande e negra fogosa de nádega volumosa.

Galera, a relação entre professor@s e alun@s afrodescendentes se dá num “clima de estranhamento”, do qual fingi-se não tomar conhecimento e os conteúdos são passados a partir de uma base eurocêntrica. Vocês já perceberam quantos capítulos os livros de História e Geografia (pra não falar das outras matérias que nem citam) trazem sobre África e quantos existem sobre a Europa? É por desconhecermos essa história que não valorizamos nossas raízes africanas, contribuindo diretamente para o enraizamento das idéias racistas em nosso país.

Não podemos ficar de braços cruzados sofrendo racismo como se isso fosse natural!! Acredito que @s jovens negr@s podem inverter o discurso do opressor resistindo e ressignificando seu modelo estético, onde o corpo negro possa sair do lugar de inferioridade e ocupar o lugar de beleza negra, assumindo um sentido político.
             
Para que a escola seja um território alternativo para a juventude negra, devemos pensá-la na perspectiva de um lugar de trocas e experiências de negros e não-negros, onde a valorização da diversidade e da igualdade sejam pilares de mudança de uma história de discriminação e exclusão em que crianças e jovens negr@s estão submetidos no interior do ambiente escolar. E atividades como: semana da consciência negra, semanas culturais, projetos de cultura popular (reisado, bumba-meu-boi, maracatus, etc), oficinas de dança e de percussão, desfile da beleza negra e o hip hop na escola são exemplos de algumas iniciativas feitas nas escolas de Fortaleza e que vem fazendo a diferença.
            
Afirmando meu direito de ser diferente, eu exerço o meu direito à igualdade de ter direitos. Garantir a diversidade é também uma forma de lutar pela igualdade.



Silvia Maria Vieira dos Santos
Professora de História e Mestranda em Educação Brasileira - UFC

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